Outros 500Neila Baldi style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
Dizem que por volta do século 13, quando um nobre era ofendido, havia uma multa de 500 soldos e, em caso de reincidência, seriam outros 500. Assim teria surgido a expressão outros 500, usada para dar a ideia de que a nova situação é diferente da anterior. Parece que, por aqui, tudo são outros 500... O país tem 2,7% da população mundial, mas tem quase 30% das mortes por Covid-19 no mundo. A média mundial é de 1 morte a cada 2 mil pessoas. No Brasil é de uma a cada 454 pessoas. O que significa que, segundo o epidemiologista Pedro Hallal, três de cada quatro mortes ocorridas atualmente no país poderiam ter sido evitadas. No mundo, os grandes líderes correram atrás das vacinas. Por aqui, os e-mails não foram respondidos, os contratos demoraram a ser assinados, criou-se celeuma com os países que enviariam os ingredientes farmacêuticos ativos (IFAs). DISSEMINAÇÃO No mundo, trabalha-se pela contenção do vírus. Por aqui, pela disseminação... Afinal, máscara, para quê? Distanciamento social tira o meu direito de ir e vir! Podemos até receber a "Cova América", que os outros países não quiseram, né? Cuidar da saúde dos brasileiros e brasileiras são outros 500. O que interessa é a manutenção no poder. Se ela significa andar por cima de mortos e mortas, e daí? Neste final de semana, chegamos à marca de 500 mil vidas perdidas neste país. E isso também serão outros 500? Teremos, até o final da pandemia, outras 500 mil pessoas mortas por um vírus para o qual já temos vacina? JUSTA IRA Diz um ditado que: "Se há 10 pessoas sentadas numa mesa, e chega um nazista, só restam duas opções: as 10 pessoas levantam e deixam o nazista sozinho ou ficam 11 nazistas na mesa". Para não fazermos outros 500, precisamos, urgentemente, nos levantar. Amanhã, em todo país, muitos e muitas de nós sairão às ruas porque há um vírus pior que o coronavírus está destruindo o país. Para quem ficar em casa, há maneiras de participar virtualmente. Nós, artistas, faremos a ação "Ausência e justa ira" com um registro, fotografia ou vídeo, destacando um par de sapatos que representarão as 500 mil pessoas ausentes neste país. Vamos fazê-las presentes! Paulo Freire, diz, em Pedagogia da Autonomia: "Não junto a minha voz a dos que, falando em paz, pedem aos oprimidos, aos esfarrapados do mundo, a sua resignação. Minha voz tem outra semântica, tem outra música. Falo da resistência, da indignação, da justa ira dos traídos e dos enganados. Do seu direito e do seu dever de rebelar-se contra as transgressões éticas de que são vítimas cada vez mais sofridas." Que comecemos a fazer outros 500 na história deste país.
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O pior cego é o que não quer ver Noemy Bastos Aramburú style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> Certa feita, havia uma esposa que só falava mal do marido. Da sua boca, só saiam críticas negativas, elogios só aos estranhos, a ele, jamais. Um dia, o marido, ao passar por uma loja, viu uma linda seda estampada, com as cores que sua esposa tanto gostava; então pensou: ficaria lindo um vestido desse tecido na Maria. Vou levar para ela fazer a roupa para o aniversário de nossa afilhada. Por conhecer bem a esposa, pediu a comadre para dar o tecido de presente, já que elas trocavam presentes entre si. O plano deu certo. Maria chegou em casa contando a novidade. Animada, mostrava que havia ganho um presente da comadre, um tecido lindo com uma estampa maravilhosa, aliás, já havia passado na costureira e mandado fazer o vestido para o aniversário da menina. Portanto, já tinha data para ser estreado. Ao chegar o grande dia, escolheu os acessórios com o maior cuidado. Separou,também, um terno para o esposo, cuja gravata pudesse combinar com a cor dominante da estampa do vestido, e foram "felizes" para a festa, com direito a vários registros que ela mesma postava nas redes sociais. Ainda fez registros para mandar nos grupos de WhatsApp, tudo com o escopo de mostrar o vestido lindo. ELA VIROU NOTÍCIA No dia seguinte, enquanto jantavam, o esposo vendo a publicidade que Maria dera ao vestido, resolveu contar a verdade. "Maria, passei em frente a uma loja de tecidos e me encantei com a estampa de uma seda. Então, comprei e pedi para a comadre te entregar. Que bom que vocês gostou! Neste momento, depois de um silêncio sepulcral, Maria diz: "Bem que eu estava desconfiada deste tecido. Ele vai manchar todinho quando eu lavar". Mas se você pensa que Maria é uma pessoa desinformada, engana-se, pois ela virou notícia no Brasil, quem não ouviu a palavra "despiora"? Pois é. Foi a Maria quem inventou. Ela jamais iria proferir a palavra melhora para seu esposo. Então, resolveu criar a palavra "despiora" para atribuir essa condição inegável ao esposo, porém, sem usar a expressão devida. Como dizem "o melhor do Brasil é o brasileiro". Rapidamente, a expressão viralizou e foi atribuída à nossa economia. Quem não ouviu na imprensa que a "economia dá sinais de despiora?" Sabemos que nada que o esposo de Maria faça é ou será reconhecido. Porém, ela esquece de um detalhe. Assim como o marido e a comadre, muito mais pessoas a conhecem. O pior cego é aquele que não quer enxergar.
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